sábado, 28 de fevereiro de 2009

Sexto Rabisco ou Sobre Minha Tristeza

Minha tristeza é seca. Não é daquelas que se liquefaz em lágrimas e sai dos olhos como o espinho da pata do leão. É contínua e seca. O perigoso é quando se tranforma em dor morna. Essa dor, se tivesse um gosto, seria amarga.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Quinto Rabisco

Quando nossa razão de viver pensa em morte não sabemos quem salvar primeiro.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Quarto Rabisco ou Um Porquê

Quando crianças gostamos de apontar e perguntar sobre a razão de ser das coisas. Quando crescemos aprendemos (ou não) que nem tudo é por causa de alguma coisa. Gosto que a criança em mim aponte e pergunte, porque gera respostas curiosas, simplesmente. Me pergunto por que escrevo (e sei que isso é uma das coisas que não se deve perguntar, por ter infinitas respostas). Sabe, em algumas tribos africanas existe um ancião que guarda toda a história da tribo na memória, acho que poderiam falar sem parar durante meses, se pedissemos. Como o ancião, tenho medo de que a história se perca, então coloco as coisas no papel para lembrar quando ler, já que não confio na minha capacidade de lembrar das coisas. Ao contrário dele, procuro tirar da cabeça para pôr no papel, não quero me tornar uma criatura que guarda toda toda a vida e não mais vive. Deve ser até difícil se mexer com a cabeça tão cheia.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Terceiro Rabisco

Os instantes antes de pegar no sono são aqueles em que me sinto mais viva, com meus devaneios, sonolenta. É vital repassar fragmentos do dia, juntar cada pecinha, levá-las para cama comigo como uma criança leva seus brinquedos. Sem isso o dia parece não ter ordem, sentido ou razão de ser, como frases embaralhadas, simplesmente. O que levei hoje montou-se por sí só. Ou talvez não precisasse de ordem. O ponto é que é impossível lembrar de tudo, e isso em parte me frustra, em parte me consome. Tento me contentar em sentir meus lábios dormentes, o calor do toque sobre minha epiderme fria, olhar a luz das pulseirinhas vermelhas ainda no meu pulso e usar o espaço aberto para a imaginação. Acho que consigo resumir tudo de maneira apropriada: limonada com açúcar.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Segundo Rabisco ou O Para Sempre

O Para Sempre é a mais doce das mentiras, criada para ser sussurrada ao pé do ouvido de quem se ama. Ou quem se acha que ama. O Para Sempre é uma ilusão, dita sem pensar e sem peso. Quem sabe até sem sentimento, apenas para agradar, para arrancar aquele suspiro. Uma mentirinha fundamental, que quando não é dita faz falta. Uma verdade em parte. O Para Sempre não é algo que se sussurre para qualquer um, é dito para poucos, quando deveria ser único. Quando único, o Para Sempre dói, bem de leve, pesa e aperta um pouco, é quase doce. A certeza sái quase como um gemido. O Para Sempre é a mais pura verdade, quando gemido por alguém que vive aquele sentimento sem nome, que não cabe na palavra amor.

É Para Sempre.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Primeiro Rabisco

Para ser sincera ainda não sei por que escrevo. Refletindo um pouco sobre o que passou por mim nestes primeiros anos de consciência (?), percebi que certos acontecimentos vieram meio que ao contrário. Para o mundo, o desenho veio antes da palavra, que por sua vez veio antes da escrita. No meu caso foi tudo de trás para frente. A paixão pelas letrinhas começou logo que aprendi a rabiscá-las e só foi acabar quando cheguei naquela primeira fase meio rebelde da vida. Escrevia versinhos, diários, coisinhas à-toa que ainda procuro quando o sol está quente demais para se sair de casa. A escrita deu lugar à palavra, mas isso durou pouco. Me desconectei disso logo, nunca fui exatamente de falar. Sabe, sempre pensei: temos dois ouvidos, dois olhos e uma só boca. (Se você pensar que temos dois lábios acaba com a minha teoria.) A paixão por traços , imagens e rabiscos começou e as palavras foram deixadas para enferrujar por mais tempo que eu gostaria. Voltei para as minhas palavras pegajosas e anfíbias, apesar de acreditar que meu talento esteja no grafite, na aquarela e nos papéis sem linhas. Todo o cérebro que eu tinha foi para as minhas mãos. (Tenho duas, afinal.)
Não sei também o que esperar deste corpo, acredito que possam sair tanto versos azuis quase infantis em dias de sol forte quanto grunhidos noturnos. Só não vou abandonar meus rabiscos para apodrecer.